quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Há quase 2 anos foi assim...#1

Os nossos tempos na Tanzânia foram memoráveis e escrevi montes de textos que vou publicar aqui de vez em quando:

"Passou hoje 1 mês desde que chegámos. E que mês!! Uma viagem enorme desde o mundo do imediato, do tudo acessível, mundo das possibilidades infinitas e do consumismo ao mundo do aguenta só mais uma hora, isso não há cá… isso só a 5 horas de distância, isso só se te mandarem...

Uma pessoa sente-se presa. Presa aos seus vícios do outro mundo… mas também presa por não ter o mínimo dos mínimos dos confortos da nossa vida. Eu sonho com a secção de chocolates do super mercado, e dá-me vómitos a única margarina que se arranja por aqui. Blue band é a marca… Nunca me irei esquecer -  Desejo manteiga como nunca antes o pensei fazer.

Sinto-me longe, como nunca me senti. 
Mesmo que a minha mãe me telefone e a sua voz esteja tão perto, mesmo que fale com a minha irmã ao telefone, sinto-me mais longe que nunca. 
Como se houvesse uma barreira tão grande entre o que eu estou a viver e a vida que elas vivem que não dá para conversar… 

Tenho saudades do meu dia a dia, das pequenas coisas, de ter uma cantina, um café, uma bolacha, um chocolate, mesmo ali a 5 minutos do meu escritório. Nunca pensei que isso fosse tão importante para mim, e quase me sinto ridícula ao sentir verdadeiras saudades da minha cantina. Mas sinto…

Aqui há um venda de bananas e Mangas, são boas são… mas são só bananas e mangas, sempre, desde que cheguei. 
Há também uns bolinhos oleosos, que de certeza vou ter saudades quando chegar a Copenhaga… Mas por agora tenho saudades da minha cantina do trabalho. Até já dei por mim a QUASE clicar no site da cantina, para ver o menu da semana.

“Viajar não é encontrar o que se procura mas encontrar o que se encontra” disse o Miguel Sousa Tavares algures aí mais ou menos assim... E é mesmo!

Não sei o que esperava… mas nunca pensei ser tão básica nas minhas saudades. De certeza que não esperava ter tantas saudades da minha cantina.

Viajar e mudar-se para um país são coisas muito diferentes. Mudar-se sozinha e mudar-se com a família também são coisas muito diferentes. Já me mudei para Copenhaga sozinha, já me mudei para Creta quando estudava, agora mudo-me com apêndices. 

É menos solitário, claro… mas é mais stressante. Há 3 pontos de equilíbrio - Eu o T. e o Martin, qualquer desiquilibrio em qualquer um dos três arrasta os outros em queda livre. 
Já era assim mais ou menos na nossa vidinha normal. 
Mas aqui só nos temos a nós. Nós somos os mesmos e o resto mudou. 
TUDO à nossa volta mudou, pessoas, casa, tempo, comida, tudo!! Portanto é compreensível que o Martin se agarre a nós mais do que nunca o fez na vida toda dos seus 2 anos."

2 comentários:

  1. que texto maravilhoso Mafalda, adorei! um grande beijinho*
    (cada vez mais penso em emigrar e ir para a Dinamarca!)

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    1. Obrigada Mafalda!
      Olha pois... Tenho ouvido que têm chegado muitas famílias aqui a tentarem comecar de novo.
      Conta comigo para o que precisares.

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